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Experiência em odores: uma entrevista.

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"Odores: e quanto a eles?". Entrevista a Gerhard Schleenstein, especialista em odores da D-NOSES, sobre o assunto.

Gerhard Schleenstein é um dos especialistas em odores que trabalha com o projecto D-NARIZÉ um consultor ambiental sênior, com 18 anos de experiência profissional. Formou-se na Universidade Técnica de Berlim como Engenheiro do Ambiente e possui um MSc pela Universidade de Lüneburg. Em 2009 fundou a ecotec, uma consultoria ambiental especializada em gestão de resíduos sólidos e líquidos e ainda odores, com sede no Chile. A Ecotec foi escolhida pelo Ministério do Meio Ambiente do Chile para delinear um programa/plano que permita uma regulamentação abrangente para odores no país. Nesta entrevista G. Schleenstein vai-nos dar conta de alguns "insights" sobre eles.

Poderia fazer-nos uma breve apresentação pessoal e o que significa ser um especialista em odores?

Uma vez, alguém me disse que os odores constituem uma grande parte do genoma humano. Portanto, todos nós devemos ou podemos ser um especialista em odores. Quanto a mim, na verdade, não sou muito bom em cheirar e, pior ainda, em degustar. Mesmo assim, trabalhei perto de 20 anos em gestão de resíduos e tratamento de águas residuais, pelo que, quando entro numa estação de tratamento, basta-me ver e cheirar para, a prioroi, saber se ela funciona bem. Sendo um engenheiro primeiro, e depois um especialista em odores, compete-me a mim analisar a natureza do problema e, em seguida, tentar resolvê-lo.

Que o nível de conhecimentos temos atualmente sobre poluição por odores e o(s) seu (s) impacto(s)?

Estamos todos familiarizados com os odores e também com a poluição potencial dos mesmos. Acho, por isso, que nós, os especialistas em odores, [ Nota do editor] sabemos bastante sobre o assunto. Padrões técnicos para odores foram desenvolvidos por mais de 30 anos. Ainda assim, sobre odores e cheiros há muita matéria interessante por saber, logo para descobrir. Basta pensar, por exemplo, nos sensores desenvolvidos recentemente que podem identificar doenças a partir da análise da respiração. [Para mais informações sobre o assunto, pode ler SUA PARTICIPAÇÃO FAZ A DIFERENÇA, Nota do editor]
Na medição dos odores quais os principais desafios encontrados?

A medição dos odores [usando métodos tradicionais, Nota do editoré muito cara e podem cometer-se muitos erros, que derivam, por exemplo, da recolha de apenas algumas amostras que, por tal, não serão, certamente, representativas do processo industrial. Pense-se nos ciclos de produção industrial que podem variar ao longo do ano ou mesmo diariamente. Ora se todo o processo de amostragem, armazenamento e transporte de amostras, análise de laboratório e modelagem de dispersão, não for feito com diligência, a margem de erro ou grau de incerteza pode facilmente atingir uma percentagem elevadíssima.

Acha que as regulamentações atuais de odores aplicadas no seu país de residência são adequadas para combater a poluição por odores?

Moro no Chile, embora seja alemão. A regulamentação dos odores é praticamente inexistente, aliás como em qualquer outro lugar, mas melhorou nos últimos dez anos. 2020 foi o ano da primeira proposta concreta de um regulamento de odores para pocilgas. Trata-se de algo, mas limita-se à medição de emissões. O problema é que as pocilgas são, sobretudo fontes passivas, muito complexas de quantificar, como estábulos com ventilação natural ou grandes áreas para o tratamento da lama no solo. Aqui, ao medir os odores, enfrentaremos o 'problema da incerteza' que mencionei antes. Infelizmente, o regulamento proposto não se preocupa com os “narizes” dos vizinhos e não leva em linha de conta medições nos receptores para, desta forma, verificar se o modelo de dispersão leva a resultados corretos.

A adesão/envolvimento do cidadão é valioso ou não para os especialistas em odores?

O primeiro conselho que dou aos meus clientes é ser um vizinho sensível e responsável. A pior coisa que pode acontecer, no caso de se tratar de uma indústria, é não pensar nos moradores das redondezas. O feedback dos cidadãos é vital para qualquer indústria que emita odores, se se quiser aperfeiçoar ou evoluir. Envolver os cidadãos às vezes não é fácil, especialmente se o especialista em odores tiver, como eu, formação exclusivamente em engenharia. 

Muito obrigado ao Gerhard por esta sua colaboração!

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